Citar:
Emboscada
Comando ferido na cara
Uma patrulha dos Comandos do Exército, a participar numa das maiores ofensivas contra os taliban a Oeste de Kandahar, Sul do Afeganistão – que ainda ontem custou a vida de um soldado canadiano – foi ontem (às 05h00 de Lisboa) emboscada por um grupo de insurgentes com metralhadoras Kalashnikov e lança-rockets RPG-7.
O rebentamento de uma granada lançada por esta última arma feriu o primeiro-sargento ‘comando’ Carlos Alberto da Silva Barry.
O militar, de 35 anos, foi atingido por estilhaços na cara. Entre outros ferimentos partiu dois dentes. Foi evacuado de helicóptero para o hospital da NATO em Kandahar e vai ser operado. Está livre de perigo e já falou com a família, principalmente para sossegar o filho pequeno.
A 2.ª Companhia de Comandos (num total de 140 militares, com o apoio de uma dezena de elementos da Força Aérea) realizava uma das suas primeiras patrulhas de combate após ter sido destacada para a zona de Kandahar, onde deverá permanecer durante mais quatro a seis semanas. Participa activamente na ‘Operação Hoover’, lançada ontem pelas tropas canadianas – com o apoio do Exército afegão, dos Comandos portugueses e da Força Aérea britânica – para contrariar um aumento dos ataques taliban na região.
Na mesma operação morreu ontem um soldado canadiano e outro ficou ferido, a pouca distância do local onde os portugueses foram emboscados. Foram alvo de um engenho explosivo detonado à distância.
Na altura da emboscada, elementos da patrulha portuguesa estavam apeados das viaturas blindadas. O sargento Barry sub-comandava um grupo de Comandos quando inesperadamente foram atacados com violência. Seguiu-se um tiroteio, rapidamente repelido pela “excelente preparação e reacção” dos militares portugueses, disse ao CM fonte militar.
O sargento Carlos Barry foi atingido por estilhaços. Os ferimentos na face são “ligeiros”. “Vai ser submetido a uma pequena cirurgia e está posta de parte a hipótese de ser evacuado para Portugal. A sua intenção, e não há nada que o impeça, é continuar com os camaradas”, adiantou a fonte.
O ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, desdramatizou o incidente mas admitiu ser “um sinal de risco” da missão. “Felizmente foi um incidente que não teve gravidade”, afirmou.
“Todos temos de estar preparados e atentos porque os riscos existem”, alertou o ministro, admitindo que em Kandahar “o risco existe”. Garantiu que as Forças Armadas estão preparadas. Severiano Teixeira afiançou que a missão no Afeganistão “não se alterou” relativamente ao previsto.
Em Novembro de 2005 um sargento português (João Paulo Roma Pereira) morreu e o cabo Horácio Mourão ficou gravemente ferido na explosão de uma bomba nos arredores de Cabul, durante uma patrulha. Em Abril de 2006 dois outros comandos ficaram ligeiramente feridos devido a uma avaria na arma durante um treino de tiro.
ARMA SOVIÉTICA DOS MUJAHEDINS
O lança granadas-foguete RPG-7 foi desenvolvido pelos soviéticos em 1961, mas continua a ser muito utilizado por se tratar de uma arma poderosa, versátil, barata e de fácil transporte (pesa apenas 7 kg e mede 95 cm). É uma arma excelente para um combatente emboscado e consegue provocar danos até em carros de combate com blindagem.
PERCURSO FEITO COM SARGENTO ROMA PEREIRA
O percurso do primeiro-sargento Carlos Barry fez-se lado a lado – desde que fizeram parelha em algumas provas do 99.º curso de Comandos (de 1996, em Lamego) – com o primeiro-sargento Roma Pereira, morto por uma bomba em Cabul, em 2005. Ambos estiveram na reactivação dos Comandos, em 1993, cumpriram missões da UNMISET, em Timor, onde foram medalhados, e seguiram em Agosto de 2005 para a primeira missão no Afeganistão, onde Barry viu morrer o colega. Carlos Barry, nascido em Moçambique e residente na zona de Corroios, separado e com um filho, regressou a Cabul em Fevereiro. É descrito como um “excelente militar”, a que junta “carácter e boa disposição”. Tem, entre outras, a medalha de Mérito Militar.
MILITARES REGRESSAM DO LÍBANO
Os 141 militares da Unidade de Engenharia 1 aquartelados em Shama, no Líbano, desde Dezembro de 2006, regressaram ontem a Lisboa após terem sido rendidos por um novo contingente que deixou a capital portuguesa de manhã.
Ao final de seis meses de serviço naquele país, o comandante da força, tenente-coronel Firme Gaspar, fez um balanço dizendo que a unidade cumpriu “com prestígio” a missão de reconstrução daquela região, bombardeada no Verão passado.
“A Unidade de Engenharia 1 sai do Líbano com um prestígio muito grande, quer junto das populações civis quer junto dos outros contingentes da UNIFIL (a força da ONU)”, disse aquele oficial.
“Fizemos muitos trabalhos. Nu-ma primeira fase dedicámo-nos sobretudo a trabalhos relacionados com a projecção de todas as forças [15 mil militares] no terreno. Nos dois terços restantes dividimos essa tarefa com trabalhos de apoio à população civil”, explicou o comandante.
Entre os portugueses não se registaram quaisquer acidentes – nem pessoais, nem de viação, nem com explosivos.
Os militares portugueses que estiveram desde Dezembro no Líbano fizeram mais de 5792 horas de trabalhos. Montaram o aquartelamento em Shama, quartéis e oficinas em vários locais, construíram um heliporto, uma escola e um cemitério, fizeram obras de melhoramentos em várias estradas.
A missão dos soldados portugueses é de apoio às unidades da UNIFIL e decorre da resolução das Nações Unidas que reforçou a presença da força da ONU para garantir uma zona tampão no Sul do Líbano, entre o Hezbollah e as Forças Armadas israelitas.
NÚMEROS DA MISSÃO
- 144 mil litros de combustível foram gastos em perto de duas mil operações realizadas.
- 4 milhões de litros de água foram consumidos. Vinte e três mil foram para os soldados beber.
- 22 215 refeições quentes foram servidas aos militares portugueses, que comeram também 3015 refeições frias.
BASTIÃO DA GUERRILHA TALIBÃ
A província de Kandahar, no Sul do Afeganistão, é uma das zonas mais violentas do país, cenário de atentados quase diários e recontros armados entre a guerrilha taliban e as forças da ISAF. A cidade de Kandahar, capital da província com o mesmo nome, é a segunda maior cidade afegã a seguir a Cabul. A província tem uma área total de 47 mil quilómetros quadrados, equivalente a mais de metade do território de Portugal. Até à ofensiva militar norte-americana, no final de 2001, a região de Kandahar era o principal bastião do regime taliban, que ali nasceu em 1996. Nos últimos meses esta zona tem sido palco de um crescente número de ataques por parte da guerrilha, principalmente nos distritos de Panjawi e Zhari, a cerca de 35 quilómetros da capital provincial.
NOTAS
SEGUNDA MISSÃO EM KANDAHAR
Esta é a segunda vez que os portugueses estão destacados para Kandahar, após os Pára-quedistas terem feito segurança à principal base da NATO
150 TROPAS NO TERRENO
Portugal tem 150 militares às ordens da NATO no Afeganistão
AL-QAEDA RECEBE PRISIONEIROS
Abu Laith, comandante da al-Qaeda, afirmou num vídeo que está disposto a receber no Afeganistão os muçulmanos presos em países infiéis
Sérgio A. Vitorino / Antunes de Oliveira